quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A Escola como mediadora entre os conhecimentos: empírico e científico[*]



Damião Solidade dos Santos[†]

Para a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Acacia Zeneida Kuenzer (2003) se faz necessário o estudo mais aprofundado da categoria competência, que tem várias conexões de acordo com o modo de produção. Na acumulação flexível, por exemplo, pode ser entendida como a capacidade de domínio de conhecimentos para enfrentar situações (eventos) não previstas.

Vale ressaltar que no modo de produção rígido taylorista/fordista há uma supremacia do conhecimento tácito sobre o conhecimento científico, tendo a experiência, a memorização, a repetição como características predominantes.

Podemos dizer que estamos vivendo uma transição da eletromecânica para microeletrônica, ou seja, do rígido para flexível. Este processo tem se dado por incorporação e colaborações entre si, e não por eliminação. Mesmo assim é possível constatar a intensificação e precarização do trabalho, considerando que a concepção capitalista é pautada na competitividade e lucratividade.

No contexto atual a Escola cumpre uma função mediadora entre o conhecimento científico e conhecimento empírico, na perspectiva de proporcionar a formação do/a trabalhador/a no mundo do trabalho com conhecimentos científicos, tecnológicos e sóciohistóricos em vista de uma sociedade, sobre bases mais justas e igualitárias. Para Kuenzer (2003, p. 50) “ao invés de profissionais rígidos, competentes nos fazeres que se repetem através da memorização, há que se formar profissionais flexíveis, que acompanham as mudanças tecnológicas decorrentes da dinamicidade da produção científica-tecnológica contemporânea".

Para Kuenzer e Rodrigues de Lima (2013, p. 524) “os processos investigativos que temos desenvolvido, até o presente momento, apontam para uma consistente relação entre formas de organização e gestão do trabalho, conhecimento e inclusão, reforçando o caráter mediador da escola no processo de apropriação, ao nível de consciência, de princípios e fundamentos científicos, embora estes estejam presentes nas práticas laborais.”

Na pedagogia da alternância utilizada nos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA´s), esta integração do conhecimento científico com conhecimento empírico é conduzida por um instrumento pedagógico denominado de Plano de Estudo como bem define Kuenzer e Rodrigues de Lima (2013, p. 528) “(...) como um trabalho participativo, no qual o jovem desenvolve um plano de pesquisa, elabora um roteiro de observação e produz uma reflexão. Assim, o jovem articula os saberes pessoais, de sua família e do seu meio sócio profissional como saberes tecnocientíficos”.

Conforme um documento da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (UNEFAB) o “Plano de Estudo é o principal instrumento pedagógico na articulação entre os conhecimentos empíricos e teóricos, trabalho e estudo. Ele é um caminho de mão-dupla, uma que traz os conhecimentos da cultura popular para o CEFFA e outra é responsável de levar para vida cotidiana as reflexões aprofundadas na Escola”.

Lançamos mãos de alguns dizeres: “a vida ensina mais que a Escola”, muitas pessoas adquirem conhecimentos sem ao menos ter freqüentado a um estabelecimento de ensino, ou às vezes ter freqüentado por pouco tempo. As mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas na sociedade contemporânea exigem um conhecimento mais complexo de maneira que uma formação escolar é indispensável e necessária. Outro “ensinar para vida” aqui reside o grande desafio da Escola que seu currículo esteja incluídos conhecimentos que sejam úteis para a vida cotidiana das pessoas.

A presidenta Dilma Rousseff por ocasião da sua posse do segundo mandato tem declarado a Educação como prioridade e cunhou o seguinte lema: Brasil: Pátria educadora. Neste sentido, temos muitos desafios pela frente o maior pode ser sintetizado na implementação do Plano Nacional de Educação (PNE), sobretudo na meta referente ao Piso Salarial Nacional do Magistério que em 2015 será de R$ 1.917,78 “valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de vigência deste PNE”. A valorização do/a educador/a é uma questão importante para o fortalecimento da Escola em vista da sonhada educação pública e de qualidade. Avante rumo à Pátria educadora.

Referências
KUENZER, A. Z. As relações entre conhecimento tácito e conhecimento científico a partir da base microeletrônica: primeiras aproximações. Educar, Curitiba, Especial, p. 43 -69.  2003 Editora UFPR.
KUENZER, A. Z.; RODRIGUES DE LIMA, H. As relações entre o mundo do trabalho e a escola: a alternância como possibilidades de integração. Educação, UFSM: Santa Maria, v. 38, n. 3, p. 523 -536, set./dez. 2013.



[*]Publicado originalmente no Jornal Opinião, Marabá– Pará, 8 e 9 de janeiro de 2015, Edição: 2551,  p. 2.

[†]Pedagogo com atuação na Escola Família Agrícola Prof. Jean Hébette (EFA) e na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER-PARÁ), Marabá - PA. dsolidade@bol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário