Damião Solidade
dos Santos[†]
Para a professora e
pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Acacia Zeneida Kuenzer
(2003) se faz necessário o estudo mais aprofundado da categoria competência, que tem várias conexões de
acordo com o modo de produção. Na acumulação flexível, por exemplo, pode ser
entendida como a capacidade de domínio de conhecimentos para enfrentar
situações (eventos) não previstas.
Vale ressaltar que no
modo de produção rígido taylorista/fordista há uma supremacia do conhecimento
tácito sobre o conhecimento científico, tendo a experiência, a memorização, a
repetição como características predominantes.
Podemos dizer que
estamos vivendo uma transição da eletromecânica para microeletrônica, ou seja,
do rígido para flexível. Este processo tem se dado por incorporação e
colaborações entre si, e não por eliminação. Mesmo assim é possível constatar a
intensificação e precarização do trabalho, considerando que a concepção
capitalista é pautada na competitividade e lucratividade.
No contexto atual a Escola cumpre uma função mediadora entre o conhecimento científico e conhecimento empírico,
na perspectiva de proporcionar a formação do/a trabalhador/a no mundo do
trabalho com conhecimentos científicos, tecnológicos e sóciohistóricos em vista
de uma sociedade, sobre bases mais justas e igualitárias. Para Kuenzer (2003,
p. 50) “ao invés de profissionais rígidos, competentes nos fazeres que se
repetem através da memorização, há que se formar profissionais flexíveis, que
acompanham as mudanças tecnológicas decorrentes da dinamicidade da produção
científica-tecnológica contemporânea".
Para Kuenzer e Rodrigues
de Lima (2013, p. 524) “os processos investigativos que temos desenvolvido, até
o presente momento, apontam para uma consistente relação entre formas de
organização e gestão do trabalho, conhecimento e inclusão, reforçando o caráter
mediador da escola no processo de apropriação, ao nível de consciência, de
princípios e fundamentos científicos, embora estes estejam presentes nas
práticas laborais.”
Na pedagogia da
alternância utilizada nos Centros Familiares de Formação por Alternância
(CEFFA´s), esta integração do conhecimento científico com conhecimento empírico
é conduzida por um instrumento pedagógico denominado de Plano de Estudo como bem define Kuenzer e Rodrigues de Lima (2013,
p. 528) “(...) como um trabalho participativo, no qual o jovem desenvolve um
plano de pesquisa, elabora um roteiro de observação e produz uma reflexão.
Assim, o jovem articula os saberes pessoais, de sua família e do seu meio sócio
profissional como saberes tecnocientíficos”.
Conforme um documento
da União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (UNEFAB) o “Plano de
Estudo é o principal instrumento pedagógico na articulação entre os
conhecimentos empíricos e teóricos, trabalho e estudo. Ele é um caminho de
mão-dupla, uma que traz os conhecimentos da cultura popular para o CEFFA e
outra é responsável de levar para vida cotidiana as reflexões aprofundadas na
Escola”.
Lançamos mãos de alguns
dizeres: “a vida ensina mais que a Escola”, muitas pessoas adquirem
conhecimentos sem ao menos ter freqüentado a um estabelecimento de ensino, ou
às vezes ter freqüentado por pouco tempo. As mudanças políticas, sociais,
culturais e econômicas na sociedade contemporânea exigem um conhecimento mais
complexo de maneira que uma formação escolar é indispensável e necessária.
Outro “ensinar para vida” aqui reside o grande desafio da Escola que seu
currículo esteja incluídos conhecimentos que sejam úteis para a vida cotidiana
das pessoas.
A presidenta Dilma
Rousseff por ocasião da sua posse do segundo mandato tem declarado a Educação como prioridade e cunhou o
seguinte lema: Brasil: Pátria educadora.
Neste sentido, temos muitos desafios pela frente o maior pode ser sintetizado
na implementação do Plano Nacional de Educação (PNE), sobretudo na meta
referente ao Piso Salarial Nacional do Magistério que em 2015 será de R$
1.917,78 “valorizar os (as) profissionais do magistério das redes públicas de
educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos (as) demais
profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano de
vigência deste PNE”. A valorização do/a educador/a é uma questão importante para
o fortalecimento da Escola em vista da sonhada educação pública e de qualidade.
Avante rumo à Pátria educadora.
Referências
KUENZER, A. Z. As
relações entre conhecimento tácito e conhecimento científico a partir da base
microeletrônica: primeiras aproximações. Educar,
Curitiba, Especial, p. 43 -69. 2003
Editora UFPR.
KUENZER, A. Z.; RODRIGUES
DE LIMA, H. As relações entre o mundo do trabalho e a escola: a alternância
como possibilidades de integração. Educação,
UFSM: Santa Maria, v. 38, n. 3, p. 523 -536, set./dez. 2013.
[*]Publicado originalmente no Jornal Opinião, Marabá– Pará, 8 e 9 de janeiro
de 2015, Edição: 2551, p.
2.
[†]Pedagogo com atuação na Escola
Família Agrícola Prof. Jean Hébette (EFA) e na Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER-PARÁ), Marabá - PA. dsolidade@bol.com.br
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