Damião Solidade
dos Santos[†]
O
objetivo principal aqui é fazer um convite para a leitura necessária do livro
da professora Zulene Muniz Barbosa (Doutora em Ciências Sociais – PUC/SP),
docente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), coordenadora do Mestrado
em Desenvolvimento Socioespacial e Regional. Para a professora Efigênia Magda
de Oliveira (CECEN/UEMA) o trabalho “analisa a reestruturação produtiva no
Brasil destacando a particularidade do processo de estruturação/reestruturação
do capitalismo industrial no Maranhão. Mergulhar neste tema é o grande desafio
que a autora se coloca ao refletir sobre os processos produtivos como uma
unidade real e contraditória. Nesse sentido, é uma produção com a qual temos
muito a aprender porque nos obriga a ir além da mera aparência dos processos
sociais em curso. Não sairemos incólumes após a leitura deste livro porque ele
de forma instigante nos leva a dialogar (...), seja para aceitar o que está
posto, seja para questionar, seja para buscar o entendimento do que não foi
dito. Isso torna esta obra uma produção intelectual estimulante e nos convida a
pensar a relação das ciências sociais com outras ciências e nosso cotidiano”.
Na
mesma linha estão as palavras da professora Terezinha Moreira Lima (DCE/UEMA) que
afirma “continua atual esta reflexão tendo em conta que o capital historicamente,
exerce e aprofunda o seu domínio, sua capacidade de criar e recriar condições
essenciais de recomposição das bases materiais, utilizando-se, mais que nunca
das tecnologias e inovações científicas, além de contar com o indispensável
apoio da classe hegemônica. A classe trabalhadora vai se complexificando e se
fragmentando devido os deslocamentos continuados do capital transnacional e do
jogo de forças atravessado pelas metamorfoses do mundo do trabalho, onde se
desencadeiam proces-sos de exclusão,
subordinação e adaptação.”
Lúcio
Flávio de Almeida que foi seu orientador destaca no prefácio intitulado: Rigor teórico e criatividade na abertura de
novas frentes de produção do conhecimento crítico: “em tempos de
produtivismo acadêmico, inúmeros textos não resistem a dois meses de vida.
Portanto, é gratificante perceber, quatro anos depois, que análise formulada por
Zulene Muniz Barbosa em sua tese de doutoramento permanece inteiramente atual
e, agora, se apresenta sob a forma de um livro cuja leitura é indispensável.”
Concordamos que a referida produção intelectual continua atual. Um exemplo de
tema abordado é sobre terceirização que está na pauta da “ordem do dia”: “a
terceirização vem sendo responsável pela maior segmentação e fragmentação da
classe trabalhadora. Esta, antes restrita ao setor de serviços (vigilância,
alimentação e manutenção), alcançou a produção e contribuiu para o surgimento
de uma ampla rede de pequenas empresas subcontratadas (fornecedores),
subordinadas à lógica da empresa contratantes. Disso resultou a estrutura
dualista da indústria brasileira, que se reforçou a partir dos governos Collor
e Cardoso” (p. 73)
Como
Zulene nos fala nas aulas do mestrado nas temáticas: Estado e Política de Desenvolvimento Regional que ela não abre mão
dos estudos dos clássicos: Maquiavel, Hobbes, Locke, Rosseau, Marx, Polanyi,
Gramsci entre outros. Mas para nós que estamos iniciando um aprofundamento dos
referidos autores a sua obra é uma porta e um caminho que nos ajuda nesta
caminhada científica e política. Ela é uma excelente comentadora.
A
obra em questão está organizada em quatro capítulos: no primeiro, a partir de
uma leitura dos textos de Marx e comentadores, procura-se recuperar a
teorização da crise não como acidente de percurso, mas como imanente ao
capitalismo; no segundo é analisada a reestruturação produtiva do Brasil; no
terceiro é analisada a estruturação do capitalismo no Maranhão, a partir do
perfil industrial; o último capítulo é dedicado a analise da construção da
Central única dos/as Trabalhadores/as (CUT) em nível nacional e estadual.
Acredita a autora que “A História continua”.
Um
tema comum para os estados do Pará e Maranhão, bem como o Brasil é o Programa
Grande Carajás (PGC) que para a autora contribuiu para: “as mudanças
econômicas, sociais e políticas que vão desde a exploração intensiva de
recursos naturais, sustentada por uma política governamental socialmente
perversa à exploração e desorganização do espaço da pequena produção maranhense
acelerando os processos migratórios campo-cidade” (p. 89).
A
política dos Grandes Projetos continua ativa, a região vive os desdobramentos
dos projetos de mineração da Vale, que vão além da mina de ferro em Carajás.
Têm projetos nos municípios de Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás e
Curionópolis e no Sul do Pará. Duplicação da ferrovia (São Luís – Parauapebas)
incluindo uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins em Marabá. Também tem as crises com reflexos em: desligamentos
de fornos nas siderúrgicas (Alumar, Alcoa, Cosipar, ...), o empreendimento Aços
Laminados do Pará (Alpa) que morreu prematuro, a refinaria Premium que foi
cancelada ou adiada.
Como
podemos observar os/as índios/as, os/as camponeses/as e os/as negros/as vivem
em permanente disputa pela defesa dos seus territórios. Estes embates se dão,
sobretudo, com o agronegócio e com as empresas vinculadas ao Projeto Grande
Carajás liderada pela mineradora Vale. O livro nos ajuda a fazer uma boa
análise de toda esta conjuntura, na perspectiva de construção do “bem viver”.
Finaliza acreditando “para retomar a perspectiva histórica de classe, dois
grandes desafios se apresentam: recuperar as formas de luta proletária sem
perder a capacidade de análise e a inserção prática em situações concretas” (p.
148).
Referência
BARBOSA,
Z. M. Maranhão, Brasil: lutas de classes e reestruturação produtiva em uma
nova rodada de transnacionalização do capitalismo. São Luís: UEMA, 2006.
160 p.
[*] Publicado originalmente no Jornal Opinião, Marabá–
Pará, 9 e 10 julho de 2015, Edição: 2.612, p. 2.
[†]Mestrando em Desenvolvimento
Socioespacial e Regional na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). dsolidade@bol.com.br
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