quarta-feira, 15 de julho de 2015

As lutas de classes e a globalização uma análise a partir do Maranhão/Brasil[*]


Damião Solidade dos Santos[†]

O objetivo principal aqui é fazer um convite para a leitura necessária do livro da professora Zulene Muniz Barbosa (Doutora em Ciências Sociais – PUC/SP), docente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), coordenadora do Mestrado em Desenvolvimento Socioespacial e Regional. Para a professora Efigênia Magda de Oliveira (CECEN/UEMA) o trabalho “analisa a reestruturação produtiva no Brasil destacando a particularidade do processo de estruturação/reestruturação do capitalismo industrial no Maranhão. Mergulhar neste tema é o grande desafio que a autora se coloca ao refletir sobre os processos produtivos como uma unidade real e contraditória. Nesse sentido, é uma produção com a qual temos muito a aprender porque nos obriga a ir além da mera aparência dos processos sociais em curso. Não sairemos incólumes após a leitura deste livro porque ele de forma instigante nos leva a dialogar (...), seja para aceitar o que está posto, seja para questionar, seja para buscar o entendimento do que não foi dito. Isso torna esta obra uma produção intelectual estimulante e nos convida a pensar a relação das ciências sociais com outras ciências e nosso cotidiano”.

Na mesma linha estão as palavras da professora Terezinha Moreira Lima (DCE/UEMA) que afirma “continua atual esta reflexão tendo em conta que o capital historicamente, exerce e aprofunda o seu domínio, sua capacidade de criar e recriar condições essenciais de recomposição das bases materiais, utilizando-se, mais que nunca das tecnologias e inovações científicas, além de contar com o indispensável apoio da classe hegemônica. A classe trabalhadora vai se complexificando e se fragmentando devido os deslocamentos continuados do capital transnacional e do jogo de forças atravessado pelas metamorfoses do mundo do trabalho, onde se desencadeiam  proces-sos de exclusão, subordinação e adaptação.”

Lúcio Flávio de Almeida que foi seu orientador destaca no prefácio intitulado: Rigor teórico e criatividade na abertura de novas frentes de produção do conhecimento crítico: “em tempos de produtivismo acadêmico, inúmeros textos não resistem a dois meses de vida. Portanto, é gratificante perceber, quatro anos depois, que análise formulada por Zulene Muniz Barbosa em sua tese de doutoramento permanece inteiramente atual e, agora, se apresenta sob a forma de um livro cuja leitura é indispensável.” Concordamos que a referida produção intelectual continua atual. Um exemplo de tema abordado é sobre terceirização que está na pauta da “ordem do dia”: “a terceirização vem sendo responsável pela maior segmentação e fragmentação da classe trabalhadora. Esta, antes restrita ao setor de serviços (vigilância, alimentação e manutenção), alcançou a produção e contribuiu para o surgimento de uma ampla rede de pequenas empresas subcontratadas (fornecedores), subordinadas à lógica da empresa contratantes. Disso resultou a estrutura dualista da indústria brasileira, que se reforçou a partir dos governos Collor e Cardoso” (p. 73)

Como Zulene nos fala nas aulas do mestrado nas temáticas: Estado e Política de Desenvolvimento Regional que ela não abre mão dos estudos dos clássicos: Maquiavel, Hobbes, Locke, Rosseau, Marx, Polanyi, Gramsci entre outros. Mas para nós que estamos iniciando um aprofundamento dos referidos autores a sua obra é uma porta e um caminho que nos ajuda nesta caminhada científica e política. Ela é uma excelente comentadora.

A obra em questão está organizada em quatro capítulos: no primeiro, a partir de uma leitura dos textos de Marx e comentadores, procura-se recuperar a teorização da crise não como acidente de percurso, mas como imanente ao capitalismo; no segundo é analisada a reestruturação produtiva do Brasil; no terceiro é analisada a estruturação do capitalismo no Maranhão, a partir do perfil industrial; o último capítulo é dedicado a analise da construção da Central única dos/as Trabalhadores/as (CUT) em nível nacional e estadual. Acredita a autora que “A História continua”.

Um tema comum para os estados do Pará e Maranhão, bem como o Brasil é o Programa Grande Carajás (PGC) que para a autora contribuiu para: “as mudanças econômicas, sociais e políticas que vão desde a exploração intensiva de recursos naturais, sustentada por uma política governamental socialmente perversa à exploração e desorganização do espaço da pequena produção maranhense acelerando os processos migratórios campo-cidade” (p. 89).

A política dos Grandes Projetos continua ativa, a região vive os desdobramentos dos projetos de mineração da Vale, que vão além da mina de ferro em Carajás. Têm projetos nos municípios de Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás e Curionópolis e no Sul do Pará. Duplicação da ferrovia (São Luís – Parauapebas) incluindo uma segunda ponte sobre o Rio Tocantins em Marabá.  Também tem as crises com reflexos em: desligamentos de fornos nas siderúrgicas (Alumar, Alcoa, Cosipar, ...), o empreendimento Aços Laminados do Pará (Alpa) que morreu prematuro, a refinaria Premium que foi cancelada ou adiada.

Como podemos observar os/as índios/as, os/as camponeses/as e os/as negros/as vivem em permanente disputa pela defesa dos seus territórios. Estes embates se dão, sobretudo, com o agronegócio e com as empresas vinculadas ao Projeto Grande Carajás liderada pela mineradora Vale. O livro nos ajuda a fazer uma boa análise de toda esta conjuntura, na perspectiva de construção do “bem viver”. Finaliza acreditando “para retomar a perspectiva histórica de classe, dois grandes desafios se apresentam: recuperar as formas de luta proletária sem perder a capacidade de análise e a inserção prática em situações concretas” (p. 148).

Referência
BARBOSA, Z.  M. Maranhão, Brasil: lutas de classes e reestruturação produtiva em uma nova rodada de transnacionalização do capitalismo. São Luís: UEMA, 2006. 160 p.





[*] Publicado originalmente no Jornal Opinião, Marabá– Pará, 9  e  10  julho de 2015, Edição: 2.612,  p. 2.
[†]Mestrando em Desenvolvimento Socioespacial e Regional na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). dsolidade@bol.com.br

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